Tenho olhos na alma.
Eles são diferentes dos olhos da face, pois eles não vêem o que se mostra, mas aquilo que se esconde.
Com meus olhos da alma pude ver muitas coisas no mundo: amores, tristezas, paixões, traumas, prazeres, maldade, ganância, inveja, solidariedade, calma, alegria, medo. E tantas outras coisas.
Mas havia algo que eu não entendia o que era, havia uma mancha disforme que existia em todas as almas que vi, algumas menores e outras maiores, algumas tomavam toda a alma.
Mas era uma mancha curiosa, pois não era uma mancha de coisa escura, era uma mancha clara, como se no lugar houvesse uma ausência. Como um câncer que funcionasse ao contrário, ao invés de fazer crescer desordenadamente, fizesse matar desordenadamente.
Então, isso me incomodou, e por muito tempo não entendi o que era. Hoje percebi. Era a Solidão.
Solidão é essa doença da alma que nos deixa ocos. É esse câncer invertido que vai consumindo a si próprio e se alimentando do resto de alma que temos.
Então, senti uma dor em meu peito, e quando olhei com meus olhos no espelho de minha vida, vi que em mim também há essa mancha de vazio.
Curiosamente, vi que na borda de minha mancha havia como uma substância bonita, furta-cor brilhante, e me parecia que essa substância estava a tentar cobrir meu buraco, parecia já ter reconstruído uma parte.
Então, com meus olhos, prestei mais atenção e descobri.
Há um remédio para a Solidão. É a Ternura.